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Trabalho de uma vida.

Maria Antonia de Paula, 63 anos e o sonho de “virar tatu” em Governador Valadares para fazer plantio.

“Onde eu nasci? onde eu nasci era no mato, tinha até onça…”

 

Dona Maria, nasceu de uma família indígena em Minas Gerais que tinha a cultura de canibalismo com crianças. Com medo da avó, seus pais enrolaram ela em um saco de farinha e jogaram no mato para proteger. Bebê, Maria é encontrada por dois caçadores que imaginavam ser uma onça, e ao se aproximarem viram que o barulho era o choro de uma recém-nascida. Na dúvida, decidiram levar para o Orfanato Santo Antônio, Belo Horizonte, que cuidaram dela por 4 meses até uma família portuguesa que estava visitando o local e achou a pequena linda, adotando e colocando seu nome de Maria Antonia de Paula, levando para Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Lá tinham uma padaria e mais dois irmãos, foram criados juntos.

 

Intrigada, a Portuguesa que adotou Maria foi buscar as origens da família e encontrou junto com a polícia a mãe que abandonou sua filha. Voltou para o Rio de Janeiro e não contou nada para Maria, decidiu então ensinar tudo para pequena órfã, estudou em boas escolas, fez cursos. e quando completou 15 anos a família viajou para o carnaval e não deixou a jovem ir junto, falando para ficar com a Avó. E no dia seguinte, receberam a notícia que o veículo caiu na ponte Rio-Niterói e todos vieram a falecer.

 

Maria ficou com a Avó por mais alguns anos em Nova Iguaçu, onde seu Avô comprou uma padaria em Jacarepaguá. Criada agora pelos avós paternos, a padaria não estava tendo muito sucesso pela onda de assaltos quase todos os dias.

 

Estudos:

 

Sem terminar o segundo grau, hoje conhecido como ensino médio, mas tem cursos de fazer bolsa, costura, calça, alimentação, plantação, fruta, bijuteirinha entre outras coisas. Do Brasil para Portugal sua educação sempre foi muito regrada.


 

Começou os trabalhos na rua em 2013, teve alguns anos dourados trabalhando no governo da Marta Suplicy em creches e 7 escolas diferentes “minha carteira é mais velha do que eu” afirma Maria Antonia. Trabalhou no Mercado da Lapa, como faxineira na região da Lapa de baixo na casa de conhecidos. Antes do Albergue Boroceia, era funcionária da cozinha do local por dois anos e depois passou para lavanderia. No tempo de José Serra trabalhou em novas escolas, mas foi mandada para o hospital na Brigadeiro Luís Antônio e trabalhou 4 anos e 8 meses, sempre trabalhando em cozinha, levou ela para carimbar receita e fechar prontuário de internação. Mas suas mãos com saudade de água, alimentação, não se satisfazia com papelada. Das 7 da manhã até às 14 horas, sempre dobrava, com vontade de trabalhar mais, levava bronca das encarregadas.

 

Hoje mora em um Hotel na Marechal Deodoro quando consegue 45, 50 reais, mas nem todos os dias é assim, insistindo em sua arte comprando as bijuterias na 25 de março e adaptando para o seu estilo. Maria então recria peças únicas e com o maior cuidado as expõe próximo a um ponto de ônibus. Diz que as pessoas param, olham mas a venda é pouca. E uma nova preocupação, aposentadoria, com as reformas do governo Temer, tantos anos trabalhados Maria Antonia só poderia se aposentar aos 65 anos

 

Hoje ela almeja morar em Governador Valadares onde possa ter uma horta e fazer seu plantio junto ao Jorge, companheiro leal que encontrou em São Paulo e a segue pelas ruas da cidade mostrando sua arte e educação impecável.

 

“A gente pode ser pobre, feia mas tem que ser honesta”. frase que a Portuguesa que a criou marcou sua vida e a fez sempre trabalhar. Sem querer conhecer sua família de origem, a fez seguir sozinha sempre trabalhando até decidir caminhar ao lado de Jorge.

Perguntada se conseguisse a aposentadoria, Maria tem a ideia de comprar um barraquinho em Governador Valadares e mexer com a sua verdura ou sua enxada. Seus olhos brilham, enchem de água com o desejo profundo em visitar a prefeitura, colocando em ordem os papéis e quem sabe pudesse trabalhar.

“Mas caso São Pedro me chamar, vou levar a aposentadoria para pagar o aluguel de lá, deve ser caro, né filho?”

 

Com um sorriso em meio a buzinas e o concreto da cidade, expondo um sonho nos olhos e focada no seu objetivo ela não desiste, quer ser o contraste apesar de sua idade o espírito ainda é jovem.

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