Tekoa Itakupe
A liderança das mulheres indígenas e seus atuais desafios
Texto e foto: Victória Silva
O joão de barro constrói o seu ninho junto com a fêmea. Existem boatos de que o macho dessa espécie prende a fêmea dentro do ninho quando sente ciúmes da companheira. Tomei conhecimento dessa história através de uma conversa com a cacique Geni Para Yry, da aldeia Itakupe, localizada no Pico do Jaraguá, São Paulo.
Não é apenas na história pouco amigável do joão de barro que a fêmea sofre opressão. Desde os primórdios do país a mulher indígena sofre violências e preconceitos na sociedade. A pequena história do joão de barro traz a tona algumas perguntas não calam: O que é ser mulher indígena hoje? Quais são as histórias dessas mulheres? Quais suas trajetórias, lutas, conquistas e desafios? Como o feminismo trata a mulher indígena?
A aldeia Tekoa Itakupe, atrás da pedra ou atrás do pico em português, possui em torno de 40 indígenas das etnias Guarani Mbya, Guarani Kaiowá e Pataxó. Em sua parte parte, os 72 hectares da terra indígena é habitado por mulheres e regrada pelo poder feminino .
A rotina da aldeia começa as 4 horas da manhã todos os dias. Não existe uma divisão de trabalho para mulheres ou homens, todos trabalham igual para construir a aldeia que está ganhando a cada dia uma nova composição, o cemitério está pronto, assim como a casa de reza e atualmente com a ajuda da ONG TETO, as casas estão finalizadas.
“Então os homens se quiserem vir para morar, vai ter que ficar igual mulher. Lava roupa, lavar louça, aqui não tem esse negócio de homem é homem e mulher é mulher. Todo mundo levanta, trabalha igual”, conta a cacique Para Yry.
A cacique também conta como é necessário ter pulso forte durante as reuniões com a prefeitura para que sejam tomadas providências em prol da aldeia. No momento, a Itakupe conquistou a escola dentro da aldeia e luta para ter seu posto de saúde básica no território.
A mulher indígena possui lideranças fundamentais na luta dos povos brasileiros pelo reconhecimento de sua terra e sua identidade. Dentro da aldeia existe uma comissão formada por mulheres, Kunhá’Gué Règuá, tem como objetivo lutar contra discursos feministas que excluem ou desrespeitam a cultura dos povos tradicionais.
Segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), em 2015 foram contabilizados 137 casos de assassinatos de índios. Outros dados obtidos junto à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e conselhos regionais mostram 87 suicídios entre os povos indígenas no último ano. Contabilizados 9 casos de violência sexual contra várias mulheres em comunidades espalhadas pelo Brasil. Infelizmente, esse dados possuem um grande fragilidade por falta de profundidade no assunto.
Além da luta pela igualdade de gêneros e respeito cultural, a Tekoa Itakupe que já sofreu reintegração de posse no ano de 2014, agora luta em um processo judicial para que a terra seja demarcada. Desafios que serão guardados em um memorial que irá ser construído na casa onde todos os moradores dormiam juntos até cada casa ficar pronta.